Em tempos de descrença nas instituições e polarização política, um fenômeno silencioso, porém corrosivo, tem se espalhado pelas câmaras municipais de todo o país: a formação de alianças de conveniência entre agentes públicos que, mesmo com trajetórias ideológicas distintas, ou até mesmo se dizendo apartidários, se unem em torno de benefícios pessoais, como cargos, verbas ou influência política.
Esse tipo de aliança, muitas vezes disfarçada de “pragmatismo político”, revela um cenário em que oportunismo e interesse próprio se sobrepõem ao compromisso com a população. E, nesse jogo de bastidores, quem mais perde é o cidadão comum.
O papel do vereador em Santo Antônio do Descoberto
Os vereadores têm um papel fundamental na estrutura democrática local. De acordo com a Câmara Municipal, cabe a eles:
• Legislar sobre assuntos de interesse local;
• Fiscalizar os atos do Poder Executivo, especialmente no uso dos recursos públicos;
• Aprovar o orçamento municipal e acompanhar sua execução;
• Representar os interesses da população, ouvindo suas demandas e propondo soluções.
Essas funções fazem dos vereadores os fiscais diretos do povo, com a responsabilidade de garantir que a administração pública atue com transparência, eficiência e justiça social.
Quando o fiscal se torna cúmplice
No entanto, quando esses representantes se envolvem em conchavos políticos, deixam de exercer seu papel fiscalizador e passam a atuar como aliados automáticos do governo, muitas vezes em troca de favores, cargos ou apoio em futuras eleições. Essa postura compromete a independência do Legislativo e enfraquece os mecanismos de controle que protegem o interesse coletivo.
Em vez de questionar, investigar e propor melhorias, esses vereadores se tornam figuras decorativas, que apenas carimbam decisões do Executivo sem qualquer análise crítica ou pior, que usam seu mandato para negociar vantagens pessoais.
No tocante, basta esclarecer que sendo papel do vereador o de fiscalizar, isso o faz por obrigação estar em lugares onde há motivo de atenção do executivo e não onde as situações não oferecem desvantagem para a população, pois nesses lugares, onde a o exercício obrigatório e normalizado do executivo, faz a presença da publicidade da prefeitura, e esse não é o papel do vereador.
Oportunismo político e o abandono da coerência
Outro aspecto preocupante é o oportunismo político. Muitos vereadores, eleitos com discursos de renovação, ética ou compromisso com a comunidade, mudam de posicionamento de forma abrupta, abandonando suas bandeiras para se alinhar a grupos com maior poder de barganha.
Essa mudança, sem justificativa ideológica clara, revela uma prática comum: usar o mandato como trampolim pessoal, e não como instrumento de transformação social. O eleitor, nesse cenário, é apenas um degrau na escada do poder.
Apartidarismo estratégico: neutralidade ou disfarce?
Há também os que se dizem apartidários ou independentes, tentando se desvincular de partidos ou ideologias para agradar a diferentes públicos. No entanto, na prática, acabam se alinhando a grupos específicos sempre que isso lhes traz vantagens, ou seja em forma de apoio político, visibilidade ou recursos.
Essa postura ambígua dificulta a fiscalização por parte da sociedade e enfraquece o debate público, pois esconde intenções e compromissos reais sob o manto da neutralidade.
Consequências para a democracia local
Quando alianças são formadas apenas por conveniência, sem diálogo com a sociedade ou respeito à diversidade de ideias, a democracia local se fragiliza. O Legislativo perde sua função de equilíbrio e controle, e o Executivo passa a operar sem os freios necessários.
Além disso, a população se vê cada vez mais distante das decisões que afetam seu cotidiano, alimentando a descrença nas instituições e o sentimento de que “todos são iguais”.
O que a sociedade pode fazer?
A resposta está na vigilância cidadã. É fundamental que a população de Santo Antônio do Descoberto acompanhe o trabalho dos seus vereadores, participe das sessões da Câmara (que são públicas e transmitidas online), cobre coerência entre discurso e prática, e exija transparência nas alianças políticas.
A imprensa, os órgãos de controle e os movimentos sociais também têm papel essencial nesse processo, atuando como fiscais dos fiscais.
A política deve ser um espaço de construção coletiva, onde divergências ideológicas são respeitadas e alianças são feitas com base em projetos e valores comuns — não em interesses pessoais. Quando vereadores se deixam guiar apenas por conveniências, traem não apenas seus eleitores, mas também os princípios mais básicos da vida pública.
É hora de resgatar o verdadeiro sentido da representação: servir ao povo, e não a si mesmo.
Alianças de Conveniência e Oportunismo Político: Quando o Interesse Pessoal Silencia a Voz do Povo
