Em tempos de cultos ao corpo e à imagem, as academias físicas tornaram-se templos modernos da saúde e do bem-estar. É cada vez mais comum ver ruas repletas de pessoas correndo, musculaturas definidas desfilando nas redes sociais e rotinas meticulosamente desenhadas por nutricionistas e personal trainers. Nada contra. Malhar o corpo é, de fato, um hábito saudável e necessário. Mas há uma outra academia, mais antiga e silenciosa, que vem sendo esquecida: a academia das ideias.
As primeiras academias da humanidade, como a famosa Academia de Platão, não tinham esteiras, halteres ou espelhos. Tinham livros, mestres e discussões. Eram espaços onde se exercitava o pensamento, onde se cultivava o espírito crítico e a contemplação. Ali, a mente era treinada com o mesmo rigor que hoje se dedica aos músculos.
A metáfora é clara: assim como o corpo adoece pela inatividade, o cérebro também definha quando negligenciado. E o preço que pagamos por isso se reflete na sociedade. Vivemos em uma era de doenças silenciosas — ansiedade, depressão, estresse crônico, intolerância, falta de empatia — que, embora multifatoriais, estão, em muitos casos, associadas à ausência de práticas mentais como a leitura, a meditação e a busca por conhecimento profundo.
Quantas horas por semana dedicamos a cuidar da mente? Quantos livros lemos no último ano? Quantos pensamentos questionamos antes de replicar? O excesso de informação superficial, somado à carência de reflexão profunda, está nos transformando em seres frágeis emocionalmente e limitados intelectualmente.
Ler é, hoje, um ato de resistência. Meditar é um antídoto contra o barulho ensurdecedor do mundo. Estudar — não apenas para provas ou diplomas, mas para compreender o mundo — é um exercício de saúde mental. As verdadeiras academias do futuro talvez precisem ser aquelas que saibam integrar corpo e mente, suor e silêncio, força e sabedoria.
Que sejamos, então, atletas do pensamento. Que cuidemos do cérebro com a mesma dedicação que temos dado ao bíceps. Afinal, de que adianta um corpo escultural sustentando uma mente atrofiada? “É preciso cuidar do corpo para não adoecer, e da mente para não adoecer o mundo.”– Rubem Alves