Segundo documentos oficiais e informações obtidas pela reportagem, a advogada do CRAM, Eucileia Nascimento Soares, conhecida como Dra. Leia, defende na justiça homem acusado de “agressão” contra uma mulher e que possui medida protetiva ativa. Trata-se do secretário municipal de Finanças de Santo Antônio do Descoberto, Welington Rodrigues da Silva.
O fato tem causado forte indignação, já que o CRAM (Centro de Referência de Atendimento à Mulher) existe justamente para assegurar apoio jurídico, psicológico e social às vítimas, e não para compor a defesa de acusados de violência contra mulheres. Para entidades ligadas à proteção dos direitos das mulheres, a situação configura um evidente conflito de interesses institucionais, colocando em xeque a credibilidade e a imparcialidade do órgão diante das vítimas.
Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que, ao figurar como advogada de defesa em um processo dessa natureza, uma profissional vinculada ao CRAM gera quebra de confiança e insegurança às mulheres atendidas, que podem se sentir desamparadas e até mesmo coagidas a buscar ajuda em uma estrutura onde a linha entre vítima e agressor se confunde.
Vale destacar que, durante o mês de agosto, o CRAM tem promovido campanhas e reuniões alusivas à Campanha Agosto Lilás, voltadas à conscientização sobre a prevenção da violência contra a mulher. Esse calendário reforça ainda mais a expectativa da sociedade de que o órgão cumpra rigorosamente seu papel de proteção e acolhimento às vítimas, tornando a atuação da advogada em defesa do secretário acusado de “agressão” um fato que provoca críticas e questionamentos sobre a consistência institucional do centro.
A denúncia contra o secretário já tramita na Justiça desde 2024, envolvendo acusações de ameaça, injúria, danos morais e pedido de medida protetiva prevista na Lei Maria da Penha.
Está marcada audiência para o próximo dia 27 de agosto 05 de setembro, fatos que aumentam a expectativa de que órgãos de controle, como o Ministério Público, apurem a conduta e eventuais responsabilidades que possam decorrer dessa atuação, considerada incompatível com a finalidade do CRAM.
Enquanto isso, movimentos sociais e lideranças locais exigem explicações públicas da Prefeitura sobre como uma advogada diretamente vinculada a um serviço de acolhimento de mulheres pode, ao mesmo tempo, atuar na defesa de um agente político acusado de “agressão” contra uma mulher.
O Jornal 14 de Maio coloca-se à disposição para publicar, em igualdade de espaço e destaque, eventual manifestação das partes mencionadas.